foto Digão Duarte

quarta-feira, abril 23, 2008

1º Encontro da Música Independente

Participei do 1º Encontro Nacional da Música Independente, e deste encontro resultou um documento chamado "Carta do Paraná - Toque o Brasil", que transcrevo na sua íntegra:
CARTA DO PARANÁ TOQUE O BRASIL
Nós, músicos e produtores fonográficos, advogados, jornalistas, comunicadores e emissoras públicas de todo o Brasil, reunidos em Curitiba, nos dias 11 a 13 de abril de 2008, sob convocação da ABMI (Associação Brasileira de Música Independente), AMAR (Associação dos Músicos, Arranjadores e Regentes), UBC (União Brasileira de Compositores) e Governo do Paraná, por meio da Secretaria de Estado da Cultura e da Rádio e Televisão Educativa do Paraná, refletimos sobre a atual situação da música independente brasileira e afirmamos a manutenção do termo Produção Independente como fator de diferenciação em relação à produção massificada. Entendemos que o cenário musical brasileiro atravessa um momento esplendoroso e pujante da criação e produção musicais. No entanto, sofremos há tempos com a prática de mercado que domina o setor. Preocupa-nos a falta de políticas públicas de fortalecimento do setor musical, relegado a uma ditadura de mercado, que define uma estética própria, de qualidade e gosto que julgamos duvidosos, baseada na obtenção do maior lucro pelo menor custo de produção, imposta de forma homogênea para todo o Brasil. Trata-se de um modelo nocivo aos interesses nacionais, que reduz a difusão da produção musical genuinamente brasileira, ignorando inclusive nossas riquezas regionais. Entre tantos dados exaustivamente analisados, destacamos um exemplo desse descaso com a cultura nacional: durante o ano de 2007, as quatro gravadoras multinacionais que operam no Brasil produziram apenas 130 títulos. Destes, 75 são licenciamentos de música estrangeira e apenas 55 de produção nacional. No mesmo período, 63 gravadoras nacionais independentes colocaram no mercado 784 títulos novos. De modo inversamente proporcional, a produção de música independente nacional ocupou apenas 9,82% do espaço de veiculação musical, contra 87,37% do espaço ocupado pela produção da indústria multinacional nas rádios comerciais de todo o País. Trata-se da imposição de um modelo de dominação cultural e monopolização do mercado da música que leva ao empobrecimento da cultura brasileira. Por meio da redução da pluralidade e diversidade de estilos e gêneros registra-se um rebaixamento da música, assim como de toda produção cultural nacional, a simples produtos descartáveis, exatamente num país reconhecido mundialmente pela exuberância de seu tesouro musical. Para democratizar o acesso à música profissional de qualidade, garantindo o desenvolvimento da cultura nacional em base à cidadania,à ética e ao respeito aos valores mais nobres de uma sociedade,convocamos as autoridades brasileiras e a sociedade de um modo geral a refletir sobre e a apoiar os seguintes encaminhamentos:
AOS GOVERNANTES:
1. Repudiar e combater como crime a prática do "jabá" (veiculação musical paga aos meios de comunicação) como um ato lesivo à cultura nacional. 2. Desenvolver um mecanismo de aquisição pública da produção independente de música brasileira, para uso nas bibliotecas, acervos e escolas públicas como forma de desenvolver e estimular a educação musical do povo brasileiro. 3. Pelo mesmo motivo, implantar e desenvolver a educação musical nas escolas de todo o país, como disciplina do currículo. 4. Criar uma política de Estado em defesa dos acervos das editoras musicais brasileiras, através do IPHAN, para impedir a absorção dos catálogos nacionais por grupos estrangeiros. 5. Assumir a defesa intransigente da lei dos direitos autorais. 6. Exigir que os órgãos públicos só possam veicular anúncio publicitário, campanha pública ou outra forma de veiculação que possibilite o repasse de recursos públicos em emissoras que estejam em dia com suas obrigações legais em relação aos direitos autorais. 7. Condicionar a manutenção e renovação das concessões públicas ao fiel cumprimento da legislação, particularmente no que diz respeito ao recolhimento de direitos autorais. 8. Criar mecanismos que garantam a diversidade e regionalidade na veiculação de toda a produção musical brasileira nos meios de comunicação em geral, de acordo com os artigos 221 e 222 da Constituição Brasileira.
AOS ARTISTAS E À SOCIEDADE BRASILEIRA:
1. Criar um banco de dados sonoros, em suporte digital, sistematizando um repertório nacional de música independente, destinado à sua difusão especialmente para as emissoras das redes públicas de comunicação. 2. Apoiar o Projeto de Emenda Constituicional, em tramitação no Congresso Nacional, que cria a imunidade tributária para a música brasileira, como forma de reconhecimento do seu papel educativo e primordial para a identidade cultural brasileira, assim como já é feito com a produção editorial. 3. Apoiar a criação, fortalecimento e expansão em sinal aberto dos sistemas público e estatal de comunicação, como forma de garantir a democracia informativa no país, e cobrar que tais emissoras se comprometam a ser agentes da difusão da cultura nacional, respeitando e valorizando a cultura regional. 4. Manifestar apoio ao ECAD, condenando toda campanha iniciada como forma de enfraquecer esta organização, conquista dos artistas brasileiros, e ao mesmo tempo contribuir para que a instituição amplie e aperfeiçoe seus mecanismos de transparência e eficiência. Para dar continuidade aos temas tratados neste encontro, os presentes decidiram manter esta forma de organização e, para isso, formar um grupo de trabalho, composto por representantes das entidades organizadoras deste encontro e outras entidades convidadas.
Curitiba, 13 de abril de 2.008.

7 comentários:

Anônimo disse...

Priscila,
Parabéns pelo excelente trabalho.
Forte abraço!
VR de Andrade

Anônimo disse...

Oi Priscila
Parabéns!!!

Adorei seu blog,é bem interessante principalmente no que diz respeito à música e ao direito autoral.É uma vergonha que tenhamos que escutar a boa música brasileira fora do nosso país que é onde somos mais respeitados e conhecidos,Europa,Japão e vários outros,menos aqui. Diariamente vemos grandes compositores brasileiros morrendo "à mingua"como se fala popularmente e a "música?" comercial dominando todo o mercado em função do tal jabá.Como radialista sempre procurei destacar e difundir nossa verdadeira cultura musical,mas infelizmente o radialista na maioria das vezes não passa de instrumento dentro das emissoras de rádio que detém o poder e o dinheiro. Sou cantora também e vejo quando pego um público mais jovem que o desconhecimento da nossa cultura musical é brutal,mas ele não tem toda a responsabilidade sobre isso. Cabe a toda a sociedade, dita culta, se interessar e procurar sanar tudo isso enquanto é tempo.

Beijos
Lais Mann

Anônimo disse...

Oi Priscila!

Muito bacana o seu blog, e obrigado pela força com o cd! Gostei muito dos seus artigos (você escreve muito bem), e até tirei algumas dúvidas sobre domínio público. E achei muito legal a idéia do show do Cordel do Fogo Encantado de se pagar a entrada com livros novos.

Você é 10!

Beijos,

Pedrão

*Pedro Montagna*
Livraria da Travessa
Diretor Departamento de CDs e DvDs
Rua Visconde de Pirajá, 572 - Ipanema - Rio de Janeiro, RJ
Tel. 21 3205.9002

Anônimo disse...

Oi, Priscilla,

Faltou o principal no documento do encontro do Paraná. Não sei porque os músicos insistem em ignorar e se omitir no que deveria ser a principal reinvindicação: A obrigatoriedade de se executar nas rádios de cada estado as músicas produzidas no próprio estado. Enquanto isso não for LEI, tudo o mais será em vão. Não há como coibir o jabá, porque não há meios de se fiscalizar. Ao passo que se houver uma LEI que garanta a execução de 20% a 25% de músicas produzidas no estado em que as rádios operam, os músicos se transformarão em fiscais dos seus direitos. Poderão formar associações fortes e lutar por seus direitos. E mais, poderão reinvindicar junto ao ECAD de 20% a 25% da arrecadação daquele órgão em seus respectivos estados.
Isso, sim, seria uma DISTRIBUIÇÃO DE RENDA e INSERÇÃO DO MÚSICOS, INTÉRPRETES E COMPOSITORES NO MERCADO DE TRABALHO.
E deixemos que as gravadoras paguem jabá pelos outros 75% ou 80%.

Hardy Guedes

Guga Pitanga disse...

Muito interessante este post e também o blog.

Abraço,
Gustavo

http://lenfantdeboheme.blogspot.com/

Anônimo disse...

OiPriscila, parabens pelo excelente trabalho. Ele vem reafirmar que o quanto o imperialismo americano, é perverso com toda a sociedade brasieleira. Desde os anos 50 quando impusseram e massificaram o rock em nossa cultura, nos fazendo acreditar de forma subjetiva que a nossa cultura de tradição era coisa menor.
Atualmente este poder imperialista esta preste de conseguir aniquilar e colocar fora do mercado de trabalho milhões de trabahadores brasileiros da industria do turismo.

Abraços,

Luiz Zorzi

Anônimo disse...

Olá Priscila:
Dou a maior força para essa sua nova empreitada.Sucesso!!
Grande abraço
Dinart Garcia
Acustic guitar,eletric guitar e
viola ten strings.